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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°111 - MARÇO DE 2008

Efeito Estufa

O mundo contra o aquecimento global

O efeito estufa vem sendo tema de debates em diversas partes do mundo, e recentemente alguns líderes mundiais estão começando a agir. A União Européia anunciou, recentemente, que pretende cortar em 20% suas emissões de gás carbônico até o ano de 2020. O português José Manuel Barroso, que preside a Comissão Européia neste momento, chamou a decisão de "uma revolução pós-industrial".

É a decisão mais radical e importante tomada por governos para tentar conter o avanço do aquecimento global. Com o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, os paises industrializados tinham se comprometido a cortar essas emissões em 5% até 2012.

A meta dos europeus é audaciosa. Mesmo assim foi criticada. Ambientalistas dizem que uma redução nas emissões menor do que 30% não basta. Mas a Europa diz que só muda seu objetivo dos atuais 20% para 30% se for acompanhada pelo resto do mundo. Um recado com alvo certo: os Estados Unidos, que sequer assinaram o Protocolo de Kyoto.

Os 27 países europeus pretendem reduzir a emissão de CO2 em 20% usando mais energia de fontes renováveis, como a solar, a do vento e, provavelmente, até a controversa energia nuclear.

Ao ser liberado na atmosfera, o gás carbônico forma uma espécie de manta em torno da Terra. Essa manta absorve a energia do Sol e impede que o calor escape de volta para o espaço. É o chamado efeito estufa. Se esse fenômeno não existisse, a temperatura global seria de –19ºC. Ou seja, o efeito estufa não é necessariamente ruim. O problema é o mesmo que faz a diferença entre remédio e veneno: a dosagem.

Para impedir que essa manta protetora fique muito grossa e a Terra esquente demais - ou seja, que o remédio vire veneno - a natureza deu uma função de equilíbrio às plantas: o papel delas é quebrar as moléculas de gás carbônico, liberando oxigênio e guardando o carbono. Mas esse equilíbrio milenar foi destruído. Acabou porque os homens descobriram onde estava guardado todo esse carbono.

Durante bilhões de anos, as grandes florestas retiraram tanto gás carbônico da atmosfera que amenizaram o efeito estufa e mantiveram o planeta fresquinho. Quando as árvores morrem, vão para debaixo da terra e levam com elas aquele carbono que absorveram. As árvores mortas se acumulam em milhares de camadas, abaixo da superfície terrestre.

Assim como o carvão, gasolina e óleo diesel também são combustíveis fósseis. Quando esses combustíveis são queimados, o carbono se recombina com o oxigênio e volta à atmosfera como CO2, gás carbônico. O CO2 sobe e vai engrossar a "manta" do efeito estufa. E o que preocupa mais é justamente o quanto e em que velocidade essa camada de gás carbônico está aumentando. Por isso, a tentativa agora de reduzir sua emissão.

Menos carne, mais florestas

Um dos mais expoentes adeptos da campanha por menos carne e mais florestas é o biólogo americano Edward Wilson, da Universidade Harvard. Segundo ele, só será possível alimentar a população mundial no fim do século, estimada em 10 bilhões de pessoas, se todos forem vegetarianos. "O raciocínio é matemático", diz Greif. Para ele, alimentar os bois com pasto ou grãos é o meio menos eficiente de gerar calorias. A produção de grãos de uma fazenda com 100 hectares pode alimentar 1.100 pessoas comendo soja, ou 2.500 com milho. Se a produção dessa área for usada para ração bovina ou pasto, a carne produzida alimentaria o equivalente a oito pessoas. A criação de frangos e porcos também afeta as florestas. Para alimentar esses animais, é necessário derrubar árvores para plantar soja e produzir ração. Mas, na relação custo-benefício entre espaço, recursos naturais e ganho calórico, o boi é o pior.

O gado tem sido considerado o grande vilão da Amazônia. Hoje, o Brasil mantém 195 milhões de bovinos. Há mais bois que pessoas. Cerca de 35% desse rebanho está na Amazônia. Para alimentar o gado, os pecuaristas desmataram uma área de 550 quilômetros quadrados, o equivalente ao Estado de Minas Gerais. Criados livres no campo, sem ração, os bois precisam todo ano de novas áreas derrubadas para a formação de pasto.

A pecuária na região está ligada à ocupação irregular de terras públicas. As terras da região pertencem ao Estado e em sua grande maioria foram tomadas na forma de posse. "Sem ter de pagar pela terra, fica mais barato produzir lá que no Sul e no Sudeste", diz Paulo Barreto, do Imazon. Para comprovar a posse da área tomada, o fazendeiro precisa mostrar que a terra é produtiva. "Para isso também servem os bois", afirma Barreto.

Além disso, segundo o Banco Mundial, o modelo regional de pecuária não traz o desenvolvimento. Seria até o contrário. Primeiro, porque a disputa por terras públicas faz a Amazônia ter um índice alto de assassinatos no campo. Cinco dos dez municípios mais violentos do país estão na região. Dados do Banco Mundial também demonstram que os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) das cidades com grandes rebanhos são similares aos dos países mais pobres do mundo.

A tendência é que os bois avancem mais sobre a floresta, para atender a uma demanda crescente de carne para exportação. Hoje, 10% dos bois abatidos na Amazônia abastecem o mercado internacional. O grande obstáculo é a ocorrência de febre aftosa no rebanho da região. O Ministério da Agricultura, os produtores e os pesquisadores acreditam que, com a erradicação da doença, o rebanho pode até duplicar para atender à demanda internacional.

Diante desse quadro, pregar a redução no consumo de carne faz sentido. Isso não quer dizer que funcione. Para o próprio coordenador do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário, a idéia de salvar a floresta pela campanha contra o consumo de carne é "problemática". O primeiro obstáculo, para ele, é o gosto do brasileiro pelo churrasco. "Não somos um país culturalmente vegetariano", diz Adário. "Essa redução é mais fácil em alguns países, em outros não." O segundo obstáculo é convencer a parcela da população que acabou de comemorar sua ascensão social, com acesso à carne, a abrir mão do churrasco no fim de semana. Com a desvalorização do dólar e a estabilização da economia mundial, muitas pessoas começaram a comer seus primeiros bifes diários nos últimos dez anos. Essa mudança de hábito alimentar é mundial. Aconteceu no Nordeste brasileiro e até na China, abrindo um novo mercado para a carne. "Falar para essa população que agora ela não pode comer carne pelo bem da Amazônia é, no mínimo, cruel”.

A solução pode ser um caminho intermediário. Parte dela passaria por uma redução - e não um abandono completo - do consumo de carne. Um brasileiro consome, em média, 38 quilos de carne bovina por ano. "Se optássemos por comer carne apenas três vezes por semana, em vez de todos os dias, a demanda seria menor", diz Meirelles. "É uma boa opção para os que possuem poder aquisitivo e acesso a outros tipos alimentos”.

Um primeiro efeito na redução do consumo de carne, por paradoxal que pareça, pode ser um aumento na quantidade de bois. Uma situação similar já aconteceu com a entrada dos grandes frigoríficos na Amazônia, há sete anos. Eles baixaram o preço pago ao pecuarista. "Tivemos de aumentar o rebanho para compensar a queda", diz Ronaldo Freitas, pecuarista de Rondônia. Por outro lado, caso a redução no consumo de carne persista e faça a pecuária ficar menos lucrativa, os pecuaristas podem, em longo prazo, reduzir os rebanhos. "Sem comprador, o melhor seria mudar de atividade", diz Freitas.

Independentemente das campanhas, existem formas de produzir carne sem destruir a floresta. É o que afirma Marcelo Lessa, coordenador de agronegócio do IFC, braço do Banco Mundial que investe no setor privado. Ele está tentando mudar os critérios de compra dos frigoríficos na Amazônia. "É uma aposta para frear o avanço da pecuária predatória", diz. Neste ano, o IFC começou a investir nos frigoríficos da região. Em troca, estabeleceu regras para a compra de carne. Nos próximos dois meses, os frigoríficos não poderão comprar de fazendas que tenham multas ambientais, estejam envolvidas em grilagem de terras ou tenham denúncias de trabalho escravo. Dentro de dois anos, vão exigir a regularização fundiária das fazendas fornecedoras.

Outra esperança é uma nova técnica agrícola desenvolvida pela Embrapa. O projeto é transformar áreas usadas apenas para pecuária num uso misto, com pastos, lavoura e até manejo florestal. O agricultor faz uma rotação dessas culturas em seu terreno. O gado é alimentado com grãos produzidos na propriedade. Com isso, uma área com 0,7 boi por hectare pode manter um rebanho quatro vezes maior. Gera até um excedente de grãos para venda externa. "Podemos continuar a comer carne sem precisar derrubar mais nenhuma árvore", afirma Barreto, do Imazon.

Fontes: Imazon, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e Instituto FNP.